Era Maio...

Eu me lembro  bem do dia que cheguei aqui... era  Maio,  o mês das flores, a primavera anunciada era revelada nos  cantinhos das pedras, nos parques, nos quintais eram  mini tulipas  coloridas por toda parte, bem aquelas que não se plantam, aquelas que  como ervas daninhas brotam todos os anos inexplicavelmente.... Me pergunto todos  os anos como elas brotam ano após ano! soltas e independentes....  Nas minhas lembranças  foi o ano com  a primavera e o verão mais lindo e ensolarado que presenciei vivendo aqui.

Eu sempre tive tantos sonhos.... a menina do Mato, comedora  profissional de pamonha, caldo de cana com Pastel ( quase uma Sommelier de caldo de cana hahah) 

me lembro muito bem quando cheguei nas "Zoropa", o sol brilhava e a brisa era fresca,  a casa que  moraria  ficava dentro de uma floresta linda e todas as manhas era surpreendida com "Bambis" no quintal.

 Havia me inscrito  para trabalhar em  um trabalhado voluntario na Alemanha.  Mal sabia a menina chucra que seria a experiencia mais forte, linda e intensa de toda sua vida... Quando cheguei fui recebida com flores, meu quartinho tinha no máximo 6 metros quadrados, era um cubículo,  a casa era toda branca daquele estilo europeu, com paredes altas e piso de madeira, os móveis como de uma pensão simples...  mas eu era  fascinada em tudo! até o pano de chão gostava! 

 Era uma organização contra o trafico de mulheres,  e eu havia mandado meu curriculum para la porque havia escrito por muitos anos sobre o tema na universidade ( sim, eu queria ser professora universitária e tudo xenten.... era engajadíssima nesses paranaues... ) recebi pelos anos de  grupo cientifico um auxilio do governo. Quando cheguei, logo pensei! vou tirar de letra, sei sobre o tema...  ( oh coitada). 


 Eu pude sentir, viver tudo com as mulheres... elas eram resgatadas, geralmente vitimas de trafico humano, ou trabalho forcado, elas  tinham muitos machucados, aqueles na Alma.  Acometidas de  uma depressão crônica, uma malandragem das ruas, um cansaço  que Às   faziam dormir durante todo o dia,  fumavam muito,  poucas vezes eu via elas sorrirem,  travadas, ansiosas com tudo,  Medo, e sem Paz. Elas tinham certeza na mente delas que elas nunca seriam e nem conseguiriam nada a não ser trabalhando nas ruas.

 assim eram as mulheres que eu  teria que cuidar, alem de  1x  fazer um trabalho de "streetwork" esse trabalho eu entrava com um grupo de mulheres dentro dos bordéis. Existe uma vida paralela nesses lugares, um mundo que as pessoas vivem dia após dia sem ver luz do sol. Vi muita coisa, Ajudamos tantas mulheres...  Nosso time tinha homens também, mas eles não podiam entrar dentro dos bordeis, como mulheres tínhamos passagem livre e podíamos distribuir nosso número ( secretamente) e também  produtos de higiene pessoal. Os cafetões gostavam ( gostavam já é demais, eles toleravam)  que davamos presente para as mulheres para que eles não precisassem gastar.... e toda a semana fielmente estávamos la.

tínhamos a confiança das mulheres e assim podíamos ajudá-las. E voce me pergunta: Menina, vc não tinha medo não?  Pode parecer louco mas eu nunca tive medo, Até quando eu entrava no subsolo escondido onde as mulheres tinham "celas" e ficavam peladas o tempo todo e  quando as portas fechavam era somente nós  e as mulheres, nem assim tinha medo, talvez porque eu estava no lugar onde Deus queria que eu estivesse e eu sentia isso, era o tempo de estar aqui...  Deus sempre foi muito presente na minha vida,  minha ligação com o sagrado sempre foi muito forte. 

Mesmo com o peso do trabalho que eu tinha que fazer, eu era vislumbrada com a Europa.  tinha 2x por semana  dias livres, ganhando bem pouco e ainda juntando para comprar minha passagem  de volta para o Brasil, eu acabei achando um cafe que era gratuito hahaha!  com bolos e cafes de graca ( me lembro muito forte de tomar o cafe lá com meu Pullover azul)  meus dias livres era pegar o ônibus com destino incerto...  ia ate o fim da cidade de trem  e voltava para casa a noite... Após alguns meses, ganhei  uma bicicleta, bem antiga.. Mas ela era suficiente para desbravar mais da Europa    que pra mim  ainda desconhecida.  Com essa bike  descobri meu lugar preferido, eu andava por horas e horas, ainda hoje faço o trajeto novamente, o lugar que Amo  e que é ainda meu preferido, se chama  Altes Land   é uma área considerada a maior da Europa em produção de macas,  toda rodeada por frutas eu amava andar e roubar macas do pé e comer, assim era o modo que eu esfriava a mente dos problemas......


continuar.....




 

 




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